7 de novembro de 2014

O dia das amoras

Mãos pequenas colhiam os frutos, tão doces e apetitosos,
Se alimentando da árvore magra.
Com seus galhos tão finos e longos, era como uma mão encantada,
E as crianças se fartavam nela.

Ainda era de tarde,
Primavera amena e misteriosa,
Onde os seres saíam para brincar.
O suco doce escorria por entre seus dentes;
Com os lábios roxos, mastigavam como pequenas feras.

Entre outras árvores ali perto,
Um grupo fazia uma dança;
Dançavam em círculo, mãos unidas,
Seus movimentos eram graciosos, mas tinham algo de selvagem, alegre;
A dança celebrava algo.

Bem no centro do rito, um cesto repousava;
Frutos? Flores? Sementes?
O que continha seu enigmático conteúdo?
A menina deu uma mordida em sua amora, e um gosto estranho ecoou em sua boca...
Era sangue o que ela degustava.

Olhavam novamente para a dança, e um novo personagem chamou sua atenção:
Havia uma criança ali.
Um menino, ainda mais novo do que eles.
O medo agora dançava naquele pomar.
Um por um, os dançarinos retiravam um facão do cesto
E então suas mãos os faziam perfurar a carne do menino.
Antes que pudessem se cansar, eis que uma foice traz o golpe certeiro.
Mulher, homem, velha, jovem, fazendeiro, lavrador;
Todos festejavam o sangue.

Crianças corriam depressa,
Fugindo do horror que seus olhos viram.
Contudo, três seres havia parados perto da cerca;
Em seus olhos e suas enxadas, um convite forçado:

Eles também iriam celebrar.

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