Quando ele estava triste,
mergulhava sempre nos mesmos pensamentos. Como um abismo de águas geladas, quanto
mais afundava, mais o escuro crescia e mais frio o fluído se tornava. O problema
fundamental era que ele simplesmente nunca esteve fora daquela poça infinita de
água escura. Amarrado pela cintura a uma âncora de aço, nunca foi à superfície.
Via as cordas próximas ao espelho d’água, e preferiria acreditar que elas eram
uma oferta de ajuda. Queria desesperadamente agarrá-las e respirar o ar que
todos respiravam, mas não podia. Porque as cordas, por mais resistentes fossem,
estavam fora de seu alcance. As cordas de fibra crua eram parte de outro mundo,
de um lugar mais bonito.
Ninguém poderia ajuda-lo. Nenhum
homem na Terra era capaz de suportar o frio em que o garoto vivia. Era uma
prisão solitária. Ele imaginava ter alguém ao seu lado, que dividisse as ondas
de gelo e fosse capaz de aquecer seu corpo cinza. Mas a única chama que via era
aquela que vinha de cima, de longe, do lugar das pessoas felizes.
Mas o sobrevivente álgido
não desistiu. Ou melhor, ele desistiu sim. Não desistiu, pois ainda permitia
que a água entrasse por sua garganta e desistiu porque já não esperava mais se
separar daquela temperatura decrescente. Ele sabia que, para sempre, aquele
seria seu caixão de inverno. Pois o amigo do fogo não poderia ajuda-lo; pois as
cordas não poderiam ajuda-lo. Pois, mesmo que a âncora maciça se desintegrasse,
ele não teria para onde nadar. Não havia espaço na casa do amigo de fogo para
um coração que queria calor. Não existe espaço para o gelo na terra comum.
Então o menino cinza
percebeu que sua única escolha era permanecer submerso em sua angústia, em sua
tristeza. Sozinho.
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