6 de maio de 2013

Para Olhar o Céu


         Enquanto pedalava pelo parque, Camila pensava em como diria a verdade. Não parecia ser a coisa mais sensata a se fazer, muito menos em uma terça-feira tão quente e bonita. Não se ouvia nada além do canto dos pássaros e do murmúrio distante dos carros.

      A calçada era cinza e uniforme, macia, perfeita para quem quisesse percorrê-la. Mas naquele dia ela era como um tapete amarelo devido aos velhos e guerreiros Ipês, que floriam intensamente, testemunhas de tantas mazelas e belezas. Ela sentiu o vento no rosto e os cabelos nos ombros em ondas horizontais. Sorriu com o cheiro do algodão-doce. Decidiu que não lhe faria mal parar um pouco, descansar as pernas, molhar os dedos na água da fonte, quem sabe até mesmo tomar um sorvete.

     Parou, escolheu um lugar apropriado e descansou sua velha bicicleta com uma cesta branca no guidom prateado. Sentou-se e percebeu que seus cadarços estavam desamarrados. E percebeu também que não havia pressa em sua missão e que o céu estava limpo e que talvez a vida valesse à pena. Puxou da bolsa surrada uma grande maçã-verde, esfregando-a no punho de sua blusa vermelha, até que ficasse tão lustrada quanto ficaria um pequeno espelho. Deu uma mordida e sentiu-se bem. Pensou na sorte que tivera quando aquilo aconteceu, e quanto penalizada ela deveria se sentir por causa disso, tudo ao mesmo tempo.

       Não há o que fazer, então solucionada a situação está. Com a mão esquerda torcendo o tecido azul de sua saia de cetim, pensou e pensou. Talvez fosse um erro, deveria voltar atrás. Quem sabe foi o maior acerto da sua vida e deveria seguir sem pestanejar.  Sendo uma coisa ou outra, isso poderia ficar para depois. Tirou as sapatilhas e, testando a temperatura da água com a ponta dos pés brancos, entrou na água da fonte.

    Seus pés cobriam as moedas lançadas e as carpas estavam indiferentes. E ela se sentiu livre.

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