A intenção daquele balão
colorido era alcançar as alturas até que a pressão das coisas de cima o
destruísse. Seu propósito de sua vida causou sua própria morte. Mas poderia
aquela pele elástica e aquele conteúdo gasoso evitarem subir aos céus?
Conseguiria deixar de roçar as nuvens e de sentir o calor do sol banhando o seu
cordão bem-amarrado? Poderia apenas se conformar com os desejos das crianças
que o rodeavam, mas que jamais o compreenderiam? Poderia suportar viver e
flutuar e pousar apenas com os olhares de satisfação e às vezes surpresa de um
adulto ou dois? Viver uma vida plástica ou morrer no infinito do ar? Inchar-se
sob a boca de alguém que jamais falaria sua língua ou estourar no bico de alguma
ave que soberanamente domina o céu? Preferiria ele ficar preso ao carrinho de
bebê que uma mãe apressada empurra pela avenida, cobiçado pelo bebê que jamais
o terá de verdade ou pertencer à incerteza do vento que o conduziria aos
espinhos de uma roseira?
O balão escolheu ficar e
morrer aos poucos, murchando. A ideia de simplesmente explodir o assustava. O
desconhecido o aterrorizava não por sua essência do não conhecer, mas da
certeza que só existe uma saída honesta, não importa o quanto os outros
insistam sobre algum atalho tentador. Reconheceu que no interior de cada
decisão, as duas eram a mesma coisa.
E ficou no centro das
crianças e das vozes febris e então, aos poucos, deixou de existir, manuseado
por mãos que jamais o tocariam de verdade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário