3 de maio de 2013

Ventos de Plástico


     A intenção daquele balão colorido era alcançar as alturas até que a pressão das coisas de cima o destruísse. Seu propósito de sua vida causou sua própria morte. Mas poderia aquela pele elástica e aquele conteúdo gasoso evitarem subir aos céus? Conseguiria deixar de roçar as nuvens e de sentir o calor do sol banhando o seu cordão bem-amarrado? Poderia apenas se conformar com os desejos das crianças que o rodeavam, mas que jamais o compreenderiam? Poderia suportar viver e flutuar e pousar apenas com os olhares de satisfação e às vezes surpresa de um adulto ou dois? Viver uma vida plástica ou morrer no infinito do ar? Inchar-se sob a boca de alguém que jamais falaria sua língua ou estourar no bico de alguma ave que soberanamente domina o céu? Preferiria ele ficar preso ao carrinho de bebê que uma mãe apressada empurra pela avenida, cobiçado pelo bebê que jamais o terá de verdade ou pertencer à incerteza do vento que o conduziria aos espinhos de uma roseira?


O balão escolheu ficar e morrer aos poucos, murchando. A ideia de simplesmente explodir o assustava. O desconhecido o aterrorizava não por sua essência do não conhecer, mas da certeza que só existe uma saída honesta, não importa o quanto os outros insistam sobre algum atalho tentador. Reconheceu que no interior de cada decisão, as duas eram a mesma coisa.

E ficou no centro das crianças e das vozes febris e então, aos poucos, deixou de existir, manuseado por mãos que jamais o tocariam de verdade.

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